30 setembro 2007

O "MEU" CINEMA - (Parte 5)


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Acompanhamos (ou seguimos) seriados memoráveis: A Deusa de Jobah, Os Perigos de Nyoka, O Fantasma, O Sombra, O Capitão Marvel, Red Rider, Capitão América... Um seriado inesquecível foi Flash Gordon no Planeta Mongo (com Larry “Buster” Crabbe e Jean Rogers como Dale Arden). Recentemente tivemos a oportunidade de adquirir (a preço de banana, não pirata, diga-se) DVD´s com todos os capítulos dos seriados do Flash Gordon. Revendo-os é que nos damos conta da forma extremamente artesanal como eram feitos, mesmo assim são considerados como os maiores filmes de ficção científica de toda a história do cinema. Personagens e histórias baseadas nas criações do genial quadrinista Alex Raymond. Costuma-se dizer, mais recentemente, que comparado ao cinema, os desenhistas de quadrinhos são ao mesmo tempo, produtores, autores e diretores.

O Capitão Marvel “voava” razoavelmente bem. Na tela do cinema, entretanto, com maior nítidez do que na de TV, era visível uma constrangedora corda sustentando o nosso herói nos seus vôos pela cidade... Fingíamos não ver o que o sustentava, e ainda evitávamos comentar esta falha com outras pessoas, quem sabe para não destruir as nossas próprias ilusões e também não colaborar para o desprestígio do nosso tão estimado herói... Nos filmes “de índio”, por exemplo, eram perfeitamente visíveis tábuas colocadas dentro das camisas dos “bandoleiros” protegendo os atores das flechadas “mortais” dos índios Sioux... Isso também “não víamos”...

Os filmes do Tarzan (Johnny Weissmüller) e sua linda companheira Jane (Maureen O’Sullivan) eram “campeões de bilheteria” entre crianças e adultos. Anunciados, esperava-se ansiosamente pelo grande dia da estréia, sem nenhum direito a reprises. Costumávamos dizer que o interesse dos adultos masculinos era mais em função da Jane do que propriamente nas aventuras de Tarzan, se bem que nós também já admirávamos a beleza de Maureen O´Sullivan... Soubemos mais recentemente da existência do Código Hayes que proibiu Maureen de se exibir com os trajes no estilo de Tarzan, obrigando-a ao uso de um enorme short por baixo do então minúsculo saiote... E assim foi para os filmes seguintes.

Parecia incoerência, mas as crianças, meninos principalmente, adoravam os filmes de terror. Não perdíamos um filme da Múmia (Lon Channey Jr.) Na volta para casa passávamos por uma avenida muito escura, ainda em obras. Qualquer barulhinho ou ruído diferente era um excelente motivo para apressar nossas passadas – quase correndo - no rumo de casa, sem coragem sequer de olhar para trás... (continua)

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Imagem youtube
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29 setembro 2007

O “MEU” CINEMA - (Parte 4)


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Os maiores estúdios de Hollywood não faziam seriados. A Metro Goldwin Mayer, por exemplo, apresentava somente grandes produções: filmes épicos, musicais, comédias sofisticadas. Menos poderosas do que a Metro, porém superiores à Columbia e à Republic, conhecíamos a Paramount Pictures, a United Artists, a 20th Century Fox e a Warner Brothers pelos filmes que eram programados para a nossa cidade.

Filmes brasileiros, argentinos e mexicanos geralmente – quase sempre – eram levados no Cine-Theatro Royal. Dramalhões com homens duelando, chorando e se matando por mulheres que faziam caras e bocas... Era um sacrifício ver tudo aquilo até o final. Levantar da poltrona e voltar para casa era impossível, porque muitas vezes estávamos acompanhados de parentes adultos que se interessavam por esse tipo de filme. E além disso, retirar-se do cinema durante uma sessão não era atitude de pessoas educadas, ainda mais em se tratando de crianças... Então, o negócio era aguentar até o fim... Ou então tirar um cochilo...

Íamos ao cinema (meu irmão e eu) às segundas e sextas-feiras exclusivamente por causa dos filmes em série que não perdíamos por nada neste mundo. Antes de iniciarem os tão aguardados seriados, entravam com um noticiário internacional. O melhor era o Pathé News, às sextas-feiras, jornal norte-americano cujo narrador, Gaspar Coelho, tinha uma voz inconfundível, difícil de ser imitada. Aliás, o único que conseguiu imitá-lo com perfeição foi o saudoso humorista e comediante José Vasconcellos. Às segundas-feiras era a vez do Les Actualitées Françaises, noticiário insosso narrado por um locutor com sotaque francês, falando rápido, o que tornava sua voz profundamente irritante. Além disso nada informavam sobre a II Guerra (talvez intencionalmente), mas falavam muito dos campeonatos de esqui na neve e circuitos ciclísticos. Resumindo: era um alívio geral quando este jornal terminava. Por pouco não era aplaudido...

Seguiam-se uns dois trailers de filmes a serem exibidos em data posterior não informada (BREVE NESTA SALA etc etc...), e era comum apresentarem trailers de películas que nunca foram mostradas. Explicações por parte do exibidor? Nenhuma. Presumia-se que houvera algum desencontro de datas ou problema com as distribuidoras ou representantes do Rio e de São Paulo.

Depois dos trailers vinham alguns filmetes de média duração (cerca de 30 minutos) estrelados por Hoppalong Cassidy, Charles Starrett, Roy Rogers, Wild Bill Elliot, Randolph Scott, Tim McCoy, Tom Tyler e outros. Destes, o menos agradável era o Hoppalong Cassidy, um ator já um tanto inadequado para os papéis que desempenhava: meio gordo, “idoso”, paradão, muito longe dos padrões “aceitos” para um “cowboy de verdade”... Isto acontecia às sextas-feiras, porque às segundas os espetáculos eram do gênero policial, também de média metragem, insípidos para nosso “paladar” de crianças já então um tanto críticas e exigentes... (continua)

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Imagem internet (set de filmagem externa)
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27 setembro 2007

O “MEU" CINEMA - (Parte 3)


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Quase todas as revistas tinham seções com fotos de filmes, artistas, bem como notícias dos bastidores de Hollywood, a Meca do Cinema. O magazine especializado mais importante e popular era A Scena Muda (já citado), cujo nome foi mudado posteriormente para A Cena Muda (com C) para se adaptar à mudança na ortografia portuguesa.

Eu não tinha um mínimo de conhecimento da técnica de cinema. Nunca tinha ido num deles, por isso era difícil entender como as imagens se movimentavam numa tela. A minha irmã tentava me explicar, mas eu não compreendia como isto seria possível, porque eu pensava numa peça de arame daquelas destinadas a fechar determinadas áreas para evitar a saída ou entrada de animais. Então, quando ouvia dizer que o filme passava na tela, eu pensava: - “Mas como pode uma figura aparecer sobre arames todos entrelaçados?” Pouca inteligência? Não. Muita imaginação.

Um dia, a promessa de me levarem a uma sessão de cinema finalmente foi cumprida. Lá fomos nós para o Cine-Theatro Royal, eu, naturalmente que muito emocionado. Não me lembro o nome do filme e nem mesmo do que tratava, mas fiquei deslumbrado com o que vi. Gostei tanto que passei a ser dos maiores freqüentadores das sessões cinematográficas. Nesta época eu devia estar com sete ou oito anos de idade.

Para mim o Cine-Teatro São Luiz era o que apresentava as melhores atrações, principalmente às segundas e sextas-feiras, quando levavam os filmes seriados. Não perdia um capítulo sequer. Ás segundas-feiras, os seriados e filmes de média duração eram da Republic, e às sextas-feiras, da Columbia Pictures. A Republic produzia seus seriados sempre em doze capítulos, exibindo-se dois em cada sessão. Terminado um episódio começava outro, sem intervalo, tudo tecnicamente na mais perfeita ordem: reprise das legendas de apresentação, número do capítulo, retorno de uma pequena parte desde o ponto em que o episódio anterior tinha terminado - sempre com o herói em situação de extremo perigo, claro...

Os da Columbia Pictures eram produzidos em quinze capítulos sem intervalo entre eles. Acabado um episódio, passavam imediatamente para o seguinte numa evidente tentativa de emendar uma parte na outra. Contudo, a impressão que ficava era a de que a película estava partida, porque ao se aproximar o final de um episódio a tela ia ficando repleta de manchas brancas, círculos e pontos negros. E o projetor fazia um barulho característico de desajuste ou de quebra, parecendo estar tentando mastigar o celulóide... Muitas vezes a sessão era interrompida. Isso irritava muito a platéia, composta em sua maioria de crianças e adolescentes. Um detalhe: meninas não iam a seriados. Não "ficava bem", ditavam os costumes da época... (Continua)
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Imagem da Internet
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26 setembro 2007

O "MEU" CINEMA - (Parte 2)

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Muito novo que eu era, não sabia nada sobre cinema, tanto sob o aspecto técnico como artístico. O pouco que eu conhecia vinha das conversas com a minha irmã mais nova, freqüentadora assídua das “salas de projeção” da cidade. Nem se sonhava ainda com os modernos aparelhos audiovisuais domésticos de hoje. O rádio, o cinema, os jornais e livros eram as grandes fontes de entretenimento, de informação e de cultura da população.

Minha irmã vivia sonhando com seus artistas prediletos. Recortava e conservava tudo o que sobre eles era pubicado dos jornais do Rio e São Paulo. E em revistas como A Scena Muda, que ela ganhava do namorado ou comprava na única banca de jornais da cidade. Num caderno improvisado em álbum, colava com grude as fotos dos seus ídolos, astros e estrelas de Hollywood. Em tempo: “grude” era uma cola caseira resultante da mistura de polvilho e água levada ao fogo numa vasilha...

Pelo seu entusiasmo dava para notar que seus artistas favoritos eram: Tyrone Power, Humphrey Bogart, Gary Cooper, Clark Gable, Douglas Fairbanks Jr., James Stewart, Lon Channey Jr., Errol Flynn, Spencer Tracy, Glenn Ford, Frank Sinatra, Tyrone Power, Cary Grant, Laurence Olivier, Gregory Peck, Rita Hayworth, Deanna Durbin, Ingrid Bergman, Bette Davis, Jane Wyatt, Joan Fontaine, Heddy Lammar, Paulete Goddard, Alice Faye, Carole Landis, Shirley Temple e tantos outros. E os filmes mais comentados: “Casablanca”, “...E o Vento Levou...”, “Gunga Din”, “Beau Geste”, “Gilda”, “O Morro dos Ventos Uivantes”, “Rebecca, a Mulher Inesquecível”, “A Dama das Camélias”, “Sangue e Areia”, "Paraíso Perdido" e muitos outros...

Certa ocasião um filme ficou muito em evidência: "Du Barry Era um Pedaço". Eu entendia como “Do barril era um pedaço”... Ficava imaginando o que tinha de diferente um filme sobre um “pedaço de barril” para fazer tanto sucesso... Mas não era nada disso: “pedaço” era expressão usada para designar uma “pessoa atraente, bonita”, geralmente do sexo feminino. O título do filme fazia referência à Madame Du Barry, ao que tudo indica uma mulher elegante, sedutora, enfim, "um pedaço”, daí o nome do filme. Estava desvendado o mistério do imaginário “barril”... (Continua)
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Jane Wyatt (Paraíso Perdido) (captured from internet)
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25 setembro 2007

O "MEU" CINEMA - (Parte 1)


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Encontrei este texto que escrevi há alguns anos relatando minha experiência de criança com relação ao cinema, como arte e técnica. Achei interessante, por isso resolvi arriscar-me a publicá-lo, porém em forma de capítulos, porque pelo menos assim não ficaria tão enfadonho de ser lido, caso alguém se interesse. Fiz algumas revisões, mas mesmo assim peço-lhes desculpas pelos erros e omissões. Afinal, não tenho o dom da escrita como os nossos queridos leitores Anna, Cristiane, Eduardo, Ery, Helô, Lord Broken, Luci, Márcia, Marilia, Meire, Paula, Peri, Sonia, Strix, Valter, Yvonne, e tantos outros. Sei que corro o risco de ter “zero comentário”, mas tudo bem. Pelo menos as minhas impressões aqui ficarão registradas. Dito isto, vamos ao nosso “seriado”. Espero que não saiam antes do THE END...
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Tive o privilégio de ser criança na minha pequena cidade do interior de Minas Gerais, Uberaba (Triângulo Mineiro). Hoje ela é uma metrópole, por isso não é de ninguém. Fui criança numa época em que todos - indistintamente - se encantavam com o cinema, a chamada “sétima arte”. Se me perguntassem quais as outras seis eu não saberia dizer. Era a fase de ouro do cinema, e cinema era sinônimo de Hollywood: ilusões, desilusões, paixões, decepções e sonhos. Tudo isso vinha enlatado nos vagões da Rede Mineira de Viação ou nos trens da Estrada de Ferro Mogiana.

Na cidade havia três cinemas: Cine-Teatro São Luiz, Cine-Theatro Royal e Cine-Teatro Metrópole. Segundo me informou recentemente um pesquisador da UNIUBE, uma das grandes universidades locais, o Cine-Theatro Royal (com "Th" mesmo) deixou de ser cinema. Teve sua característica arquitetônica externa preservada, porém suas instalações internas foram transformadas numa rendosa pizzaria. É bom que não acabe em cinzas... Tempos depois foi inaugurado mais um cinema: o Cine-Teatro Vera Cruz. Ficamos "orgulhosamente" com quatro... Quanto mais cinemas, mais status para a cidade, diziam.

O curioso é que somente em duas ocasiões pude ver um dos cinemas ser utilizado como teatro, o Metrópole: a primeira foi numa apresentação do então popularíssimo humorista Brandão Filho, da Rádio Nacional do Rio, e a outra, da Orquestra Típica Argentina, de Francisco Canaro, com seus bandoneóns e violinos. Eu assisti às duas apresentações, e se outras aconteceram, não foram divulgadas. Por isso os tais cine-teatros eram, na realidade, muito mais cines do que teatros... (CONTINUA)
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Imagem capturada da Internet (Uberaba)
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22 setembro 2007

GREGORY PECK


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Gregory Peck, cujo nome de batismo era Eldred Gregory Peck, nasceu em 05/04/1916, em La Jolla, CA, USA. Foi criado pela avó desde os cinco anos de idade, depois que o pai, farmacêutico, se divorciou de sua mãe.

Adolescente, começou a estudar medicina na Universidade de Berkeley, onde atuava no teatro universitário. Seu grande talento para representar levou-o a aperfeiçoar-se, graduando-se numa boa escola de teatro de Nova York. Estreou na Broadway, em 1942, e no cinema em 1944, com o filme “Quando a Neve Tornar a Cair”, já então contratado pela RKO Radio Pictures.

Teve brilhante atuação em “As Chaves do Reino”, sendo indicado para o Oscar, mas perdeu para Ray Milland, pelo espetacular desempenho deste em “Farrapo Humano”.
Sua carreira no cinema foi longa (cinco décadas, sempre com destaque), levando-o a ganhar o Oscar por “O Sol é para Todos”. Consagrado, só atuava em filmes que lhe agradavam. Greg tinha 1,91m de altura...

“As Neves de Kilimanjaro” (1952), A Princesa e o Plebeu” (1953 e “O sol é Para Todos” (1962) são apenas alguns de seus filmes mais lembrados. Recebeu o prêmio da Academia pela sua magistral atuação fazendo o papel do advogado Atticus Finch, neste último filme.

Recebeu inúmeros prêmios oficiais por suas lutas nos movimentos humanitários e políticos. Gregory Peck foi casado de 1942 até 1955 com Greta Kukkonen. Divorciou-se para casar com uma jornalista francesa Veronique Passani, com quem viveu até a morte, em 12/06/2003, em Los Angeles, CA, USA. Teve cinco filhos, três do primeiro casamento, e um casal do segundo. Um de seus filhos, Jonathan, repórter de TV, suicidou-se aos 30 anos.

Gregory é relacionado como o décimo segundo entre os maiores astros da história do cinema em todos os tempos.

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Imagem capturada da Internet (APS)
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DIA INTERNACIONAL DA PAZ


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Passando hoje pelo blog da nossa amiga CRISTIANE vejo-a falando de paz num belíssimo post sobre o Mahatma Gandhi. E lembra também que o dia 21 de setembro foi o DIA INTERNACIONAL DA PAZ. Uma coisa tão rara hoje em dia que praticamente poucos se lembraram dela. Então, apesar de já passado o seu dia (mas para falar de paz todo dia é dia), resolvi aproveitar uma foto que fiz recentemente na Ponte Rio-Niterói ao cair da noite, em cujo painel de avisos colocaram uma ótima sugestão: PRATIQUE A PAZ...

Pratique a PAZ com a sua vizinhança, com o seus familiares, com os seus colegas de trabalho, com os seus empregados, com os seus professores. Pratique a paz no trânsito, nos estádios, na praia, enfim, em todos os lugares. Pratique a paz com a Natureza. Se cada ser humano fizer a sua parte, creio que ainda nos restará uma esperança...

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Foto digital de Aps
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17 setembro 2007

O VELHO BAÚ DA MINHA INFÂNCIA


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Acho que todos temos o nosso baú, seja guardado a sete chaves na memória ou aberto para que todos saibam o que tem dentro dele. Pois bem, dia desses o nosso amigo Peri, disse "Adelino, deste teu baú saem coisas realmente inesperadas...". Aí então lembrei de um baú de verdade, bem antigo, que tinha em nossa casa. Eis a historinha dele, "resumida":

Eu tinha seis anos de idade. No canto de um quarto da casa ficava um velho baú de madeira, com alças de metal, igual àqueles dos filmes de pirata que eu assistia no cinema ou via nos gibis. Não sabia o que tinha dentro, e nem mesmo curiosidade em saber. Para nós, meu irmão e eu, era apenas um "assento”, um enfeite, um traste que ninguém ousava jogar fora. Uma relíquia que quando nascemos já fazia parte da conta “móveis e utensílios” da família, “totalmente depreciado”, mas fazia.

Um dia minha mãe concluiu que além de ocupar espaço pelos cantos ele servia de “moradia” para pequenos insetos e roedores. Mandou que o jogássemos num depósito de lixo não orgânico, debaixo da mangueirinha no fundo do nosso quintal. Naquele tempo não tinha coleta domiciliar, cada um tratava de juntar e queimar o seu lixo. Sem razões sentimentais que nos ligassem a ele, cumprimos a missão com um certo alvoroço, alegria e curiosidade. Segurando-o pelas alças, nós o arremessamos para o alto. Quando a velha peça caiu ao chão, abriu-se, despejando papéis velhos e outras quinquilharias ao seu redor.

Dentre elas uma despertou mais a nossa atenção: um livro ilustrado, de capa dura, tamanho 15x20 centímetros, editado no final da década de dez, vinte, talvez. Páginas com gravuras de colorido desbotado, o vermelho quase cor de rosa, e os textos impressos em letras algumas até semelhantes ao Script dos atuais redatores de computador.

Guardei o livro com carinho, e de vez em quando dava uma olhada nele. Um dia fiz uma descoberta muito importante: notei que numa relação de títulos na primeira página, os números colocados à sua direita correspondiam ao conteúdo da página à qual se referia. Mostrei pra todo mundo. Disseram-me que eu tinha “descoberto a pólvora”. Mais tarde compreendi que eu tinha simplesmente descoberto o que seria o índice de um livro...

Do interior do velho baú saíram mais coisas: peças ou acessórios da antiga máquina de costura Singer da minha mãe, cartas, fotografias, cadernos. E as mais valiosas: algumas belas e bem legíveis partituras de músicas compostas pelo meu pai, falecido apenas quatorze dias após o meu nascimento, eu soube mais tarde.

Adolescente, compreendi porque o velho baú vivia fechado, quieto num canto. Tentaram trancar dentro dele saudades e recordações. Nem tanto por mim, que não tinha do que ter saudade, mas para minha mãe e o restante da família.

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Páginas do livro Leitura do Principiante, escaneada por APS.
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09 setembro 2007

JOAN LESLIE (1925)


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Poucos já ouviram falar da bonita atriz Joan Leslie, apesar de suas atuações ao lado de astros famosos, como veremos adiante. Eu também talvez nem tivesse tomado muito conhecimento dela, não fosse um fato curioso do meu tempo de criança. Conto depois, se sobrar espaço. Falemos da atriz.

Joan Leslie, cujo nome de batismo era Joan Agnes Theresa Sadie Brodel, nasceu em 26 de janeiro de 1925, em Detroit, Michigan (USA). Começou a se apresentar aos três de idade ao lado das duas irmãs em pequenos espetáculos de canto e dança. Aos onze (usando seu nome verdadeiro) já estava em Hollywood trabalhando em diversos filmes, entre eles, Camille, sua estréia no cinema, em 1936.

Seu primeiro grande papel foi com Humphrey Bogart, em High Sierra (Seu Último Refúgio) (1941), já então com o nome artístico de “Joan Leslie”. Seguiram-se participações em Sargeant York e The Wagons Roll at Night. Em Yankee Doodle Dandy (A Canção da Vitória) (1942), fez o papel da esposa do personagem interpretado por James Cagney. E no ano seguinte, com apenas 18 anos, atuou com Fred Astaire em The Sky´s the Limit (Tudo por Ti).

Casando-se em 1950, afastou-se do cinema, levada principalmente pelo cuidado dispensado aos filhos gêmeos Patrice e Ellen. Fez a partir daí diversos comerciais, aparições e shows na TV. Segundo informações, nunca concorreu ao Oscar, mas tem o seu nome na Calçada da Fama (1560 Vine Street), Hollywood.

Eu não me esqueço dessa atriz por um motivo muito simples: quando criança, um menino ficou apaixonado por uma menina do grupo escolar (de outra sala), tímida, quieta, inteligente, com aquele jeitinho típico que quase não chama a atenção de ninguém. Ele, também tímido, sequer sabia seu nome. E coragem de perguntar? Seria castigo na certa.

O que fez? Buscou nas revistas de sua irmã (Cena Muda, Carioca, sei lá qual) uma artista que lembrasse aquela pessoa de quem tanto gostava. Custou, mas achou uma foto que recortou e colou bem discretamente no seu caderno de caligrafia... O nome da menina do grupo escolar ele nunca soube. Inventou um, claro que o mais bonito para o seu gosto de criança. Mas a estrela de cinema cuja foto ele recortou da revista já era conhecida: Joan Leslie.

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Imagem escaneada por Aps do livro RKO Story
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08 setembro 2007

COISAS DA VIDA ou A CHAVE DA SORTE


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Depois das tristezas da semana que se encerra, uma historinha um pouco diferente: segunda-feira passada procurei pelo serviço de um chaveiro muito antigo, de confiança aqui dos moradores da rua. Ele me perguntou se eu me lembrava dele. Eu disse que achava que sim. Então ele contou que há uns cinco anos eu o chamei para trocar a fechadura da porta social do nosso prédio (na época eu era o Síndico do Condomínio...)

– É verdade. Agora eu me recordo – eu disse.
– Pois imagina, na chave que troquei tinha gravado um número, uma “milhar”...
- Disso eu não recordo. E então? – perguntei.
- Pois é, naquele mesmo dia eu joguei aquele número inteirinho.
- E deu?
- Deu na “cabeça”– (Não entendo nada de milhar e nem de dar “na cabeça”...)
- Mas e o prêmio, serviu para alguma coisa?
- Olha, se serviu - disse-me ele sorrindo -, dez mil e quinhentos reais, que hoje valeria uns doze ou treze, comprei um carro para trabalhar e ainda acertei a vida do meu filho mais novo.
- Que maravilha! – exclamei. Fico feliz em saber que fui indiretamente o responsável por ter acontecido isto.
- Sem dúvida, disse ele, outro dia a minha esposa estava aqui, o senhor passou, e eu fiz questão de mostrar quem tinha sido o responsável por tanta felicidade. E não deixamos de fazer uma prece para o senhor e sua família.

Se eles fazem uma prece é porque são religiosos, eu não perguntei. Não sei se Evangélicos, pois segundo se sabe, estes não jogam. Devem ser católicos, pelo jeito. Pouco importa. Ele me entregou a cópia da chave, e eu me despedi satisfeito por ter proporcionado ainda que involuntariamente uma grande alegria a pessoas que precisavam."

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Imagens escaneadas por Aps.
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02 setembro 2007

MARILIA SEMPRE...


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A nossa querida leitora MARILIA ALVARENGA, atleticana de BH, conseguiu fundir o motor do carro dela, de estimação. Imaginem se não fosse... Chegava no posto e... "Completa..." Completavam óleo e gasolina. Água? Jamais. Pra que, se choveu tanto em BH? Sempre com pressa, nunca desceu do "veículo". Na foto vemos Marilia, na única vez que cuidou direito do carrinho...
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Imagem da revista Noite Illustrada (dois L) escaneada por Aps
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01 setembro 2007

MOTO-SERRA "ATACA" EUCALIPTO



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Num post de 13/01/2007, contei a história da semente de eucalipto que eu ganhara no estande da Austrália, por ocasião da ECO-92. Ela foi plantada, germinou, cresceu, atingindo cerca de trinta metros de altura. Na ocasião recebemos elogios ao decidirmos mantê-lo intacto, mas as vozes do bom senso e de uma boa moto-serra falaram mais alto. O bom senso até que falou baixo, mas a moto-serra fez muito barulho...

Pois então, atendendo ao justo apelo de nossa vizinha, uma simpática senhora bastante idosa, resolvemos podar o histórico eucalipto, bem como outras árvores do “jardim”. A nossa vizinha tinha receio de que o nosso Eucalyptus melanophloia pudesse cair sobre a casa dela a uns 30 metros de distância. Tudo bem. A podagem já era necessária e aproveitamos para incluír o nosso eucalipto de estimação no “pacote macabro”...

A nossa esperança é a de que ele volte a brotar breve, e fique tão alto como era anteriormente.

O corte drástico teve licença oficial, claro. Nas fotos poderão ver o resultado: como era e como está hoje.

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Fotos digitais de Adelino P. Silva
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POUCAS PALAVRAS


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Na quarta-feira, 29 de agosto, recebi de minha filha Claudia a seguinte mensagem de texto no telefone celular:

"Oi, já reparou que no Conselheiro Mayrink tem um ipê rosa? Passei por ali agora e vi. Acho que as flores já estão caindo, mas está bonito. Beijos. Claudia."

Curioso como em poucas palavras pode-se transmitir muito carinho e sensibilidade.

"Obrigado, Claudia. Vou fotografá-lo assim que puder. Beijos.Adelino."

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Foto de Adelino P. Silva(01/09/2007)
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