O “MEU" CINEMA - (Parte 3)
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Quase todas as revistas tinham seções com fotos de filmes, artistas, bem como notícias dos bastidores de Hollywood, a Meca do Cinema. O magazine especializado mais importante e popular era A Scena Muda (já citado), cujo nome foi mudado posteriormente para A Cena Muda (com C) para se adaptar à mudança na ortografia portuguesa.
Eu não tinha um mínimo de conhecimento da técnica de cinema. Nunca tinha ido num deles, por isso era difícil entender como as imagens se movimentavam numa tela. A minha irmã tentava me explicar, mas eu não compreendia como isto seria possível, porque eu pensava numa peça de arame daquelas destinadas a fechar determinadas áreas para evitar a saída ou entrada de animais. Então, quando ouvia dizer que o filme passava na tela, eu pensava: - “Mas como pode uma figura aparecer sobre arames todos entrelaçados?” Pouca inteligência? Não. Muita imaginação.
Um dia, a promessa de me levarem a uma sessão de cinema finalmente foi cumprida. Lá fomos nós para o Cine-Theatro Royal, eu, naturalmente que muito emocionado. Não me lembro o nome do filme e nem mesmo do que tratava, mas fiquei deslumbrado com o que vi. Gostei tanto que passei a ser dos maiores freqüentadores das sessões cinematográficas. Nesta época eu devia estar com sete ou oito anos de idade.
Para mim o Cine-Teatro São Luiz era o que apresentava as melhores atrações, principalmente às segundas e sextas-feiras, quando levavam os filmes seriados. Não perdia um capítulo sequer. Ás segundas-feiras, os seriados e filmes de média duração eram da Republic, e às sextas-feiras, da Columbia Pictures. A Republic produzia seus seriados sempre em doze capítulos, exibindo-se dois em cada sessão. Terminado um episódio começava outro, sem intervalo, tudo tecnicamente na mais perfeita ordem: reprise das legendas de apresentação, número do capítulo, retorno de uma pequena parte desde o ponto em que o episódio anterior tinha terminado - sempre com o herói em situação de extremo perigo, claro...
Os da Columbia Pictures eram produzidos em quinze capítulos sem intervalo entre eles. Acabado um episódio, passavam imediatamente para o seguinte numa evidente tentativa de emendar uma parte na outra. Contudo, a impressão que ficava era a de que a película estava partida, porque ao se aproximar o final de um episódio a tela ia ficando repleta de manchas brancas, círculos e pontos negros. E o projetor fazia um barulho característico de desajuste ou de quebra, parecendo estar tentando mastigar o celulóide... Muitas vezes a sessão era interrompida. Isso irritava muito a platéia, composta em sua maioria de crianças e adolescentes. Um detalhe: meninas não iam a seriados. Não "ficava bem", ditavam os costumes da época... (Continua)
Eu não tinha um mínimo de conhecimento da técnica de cinema. Nunca tinha ido num deles, por isso era difícil entender como as imagens se movimentavam numa tela. A minha irmã tentava me explicar, mas eu não compreendia como isto seria possível, porque eu pensava numa peça de arame daquelas destinadas a fechar determinadas áreas para evitar a saída ou entrada de animais. Então, quando ouvia dizer que o filme passava na tela, eu pensava: - “Mas como pode uma figura aparecer sobre arames todos entrelaçados?” Pouca inteligência? Não. Muita imaginação.
Um dia, a promessa de me levarem a uma sessão de cinema finalmente foi cumprida. Lá fomos nós para o Cine-Theatro Royal, eu, naturalmente que muito emocionado. Não me lembro o nome do filme e nem mesmo do que tratava, mas fiquei deslumbrado com o que vi. Gostei tanto que passei a ser dos maiores freqüentadores das sessões cinematográficas. Nesta época eu devia estar com sete ou oito anos de idade.
Para mim o Cine-Teatro São Luiz era o que apresentava as melhores atrações, principalmente às segundas e sextas-feiras, quando levavam os filmes seriados. Não perdia um capítulo sequer. Ás segundas-feiras, os seriados e filmes de média duração eram da Republic, e às sextas-feiras, da Columbia Pictures. A Republic produzia seus seriados sempre em doze capítulos, exibindo-se dois em cada sessão. Terminado um episódio começava outro, sem intervalo, tudo tecnicamente na mais perfeita ordem: reprise das legendas de apresentação, número do capítulo, retorno de uma pequena parte desde o ponto em que o episódio anterior tinha terminado - sempre com o herói em situação de extremo perigo, claro...
Os da Columbia Pictures eram produzidos em quinze capítulos sem intervalo entre eles. Acabado um episódio, passavam imediatamente para o seguinte numa evidente tentativa de emendar uma parte na outra. Contudo, a impressão que ficava era a de que a película estava partida, porque ao se aproximar o final de um episódio a tela ia ficando repleta de manchas brancas, círculos e pontos negros. E o projetor fazia um barulho característico de desajuste ou de quebra, parecendo estar tentando mastigar o celulóide... Muitas vezes a sessão era interrompida. Isso irritava muito a platéia, composta em sua maioria de crianças e adolescentes. Um detalhe: meninas não iam a seriados. Não "ficava bem", ditavam os costumes da época... (Continua)
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Imagem da Internet
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16 Comments:
Ah, aqui meu pai me levava no cine Brasil! era sim, maravilhoso, e até hoje, adelino, cinema me fascina e me deixa deslumbrada!1
amigo, estou adorando estar aqui e lendo suas lembranças!
um bjão e quero mais ...
Marilia, eu só me lembro do Metro ou Metrópole, que se não me engano ficava na Praça Sete de Setembro, onde tinha o Banco Financial. Tem ainda?
Obrigado. Novos capítulos virão.
Beijos.
Adelino, legal esse seriado de posts. Fica parecido com os do Cine Teatro São Luis. Assim, a gente volta todo dia. Boa sacada essa.
Só não entendí uma coisa: por que "não ficava bem" as meninas irem aos seriados? O que voces meninos, faziam por lá?
Grande abraço
Cadê a parte 4????
bjão e bom fim de semana1
O cine Brasil ficava (fica?) na praça sete, o cine metrópole ficava na Rua da bahia com Goias...
não existe mais!
bjos
Adelino
Adoro cinema.
To acompanhando seus post's e gostando muito.
Beijinhos
Adelino, esta fantástica essa sua série. Nostalgia da boa! Estou revivendo tempos imemoriais....
Forte abraço e bom domingo.
Viu só que que viagem todos nós estamos fazendo?
Não me lembro de ter assisitido nenhum seriado, porque quando comecei a ir ao cinema, já estava interessada em outras coisas, já era uma mocinha.
Um beijo e boa semana.
"...Só não entendí uma coisa: por que "não ficava bem" as meninas irem aos seriados? O que voces meninos, faziam por lá?" (VALTER FERRAZ).
Valter, costumes da época, Valter. "Meninas de bem" não jogavam futebol, basketball, não empinavam pipas (no bom sentido), além de outros preceitos de "bom comportamento", entre estes o de não poderem ir aos seriados. Quando muito ficavam à margem assistindo as brincadeiras dos meninos. E as que tinham irmãos mais ou menos da mesma idade eram "vigiadas" por eles. Nada demais, seu Valter. Fazer o quê?
Um abração, e bom domingo pra vocês.
Calma, Marilia. Eu não tenho o seu pique... Você coloca dez ótimos posts por dia, e ainda fica me cobrando o Chapter Four...
Beijos
Então está explicado. O Metrópole existiu sim. Uma vez vi um filme lá, mas não me lembro do que se tratava.
Marilia, quando você disse "rua Bahia com Goiás" lembrei-me que, poucos sabem, acho, mas BH foi uma cidade traçada nas pranchetas. O Centro de um círculo seria a Praça Sete. Dali saíam as grandes avenidas e suas transversais. Bem mais afastada, outro grande círculo, que seria a Avenida do Contorno.
Goiânia também foi traçada, planejada, assim como Macapá, Brasília. Cidades que não nasceram naturalmente.
Beijos
Luci, muito obrigado pelos seus comentários. Gosto mesmo dessas coisas simples.
Beijos, e uma ótima semana para você e família.
Legal que esteja gostando, Eduardo. Pensei que seria um "fracasso de bilheteria", mas pelo jeito, estão interessados.
Abraços e boa semana para todos nós.
Anna, eu queria antes de tudo lhe agradecer pelo presentinho que deixou para mim no Meu Jeito de Ser. Fiquei muito honrado, e vou postá-lo, mas o meu PC anda meio “descompensado” (agora mesmo acabei de escrever um comentário para você, fui ousar vizualizá-lo, e cadê? A página não estava disponível). É redigir e mandar logo... A turma aqui usa o “bichinho” para baixar programas, e levar para o deles... Em suma, é um “pé de boi”. Se pifar de vez, “ninguém mexeu nele, nem passei perto”, sabe como é... Antes assim.
Quanto aos filmes seriados, Anna, são de épocas remotas, você nem tinha sido escolhida para nascer. Mesmo gente contemporânea deles os conceituavam como “coisas menores”, assim como os gibis. Hoje são cultuados. E, complementando, mesmo se fosse do seu tempo, você seria uma menina, e “menina não ia a seriados”, não era de “bom tom”, lembra-se?
Eu acho interessantes esses registros das coisas passadas, Anna, porque indiretamente – mesmo que não seja esta a nossa intenção – damos uma idéia dos costumes vigorantes à época dos fatos. De repente nos damos conta disso.
Um beijo, e feliz semana para todos.
Adelino
PS – Gostei muito daquele seu post educativo sobre o uso indevido de medicamentos. Muito bom mesmo. Meus parabéns mais uma vez.
Adelino,
Faço minhas as palavras da Marilia. Delicioso estar lendo isso.
Abraço
Caro Lord, obrigado pelo seu valioso prestígio.
Um abraço
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