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Durante a II Guerra, a Marselhesa, o belíssimo hino da França, era constantemente executado nas estações de rádio, quase sempre como prefixo dos noticiosos. A PRE-5 (Rádio Sociedade Triângulo Mineiro) de Uberaba, tinha um intervalo na programação, do meio-dia às duas da tarde, que começava e se encerrava com a “Canção do Expedicionário” ou então a “Canção do Soldado”. Acabei decorando as letras, o que me foi útil mais tarde nas instruções militares e desfiles do Tiro de Guerra.
O final da guerra foi extremamente emocionante. Começou com a rendição dos alemães. A Itália já tinha se rendido às forças aliadas, e notícias já davam como certa a morte de Benito Mussolini.
Não me ligava a detalhes, criança que era, mas sabia que a vitória dos aliados estava próxima. Lembro-me muito bem quando Heron Domingues leu quase gritando, cheio de emoção, a seguinte notícia ao microfone da Rádio Nacional: “E ATENÇÃO, ATENÇÃO, INFORMA O REPÓRTER ESSO EM EDIÇÃO EXTRAORDINÁRIA! OS ALEMÃES ACABAM DE SE RENDER INCONDICIONALMENTE. E VAMOS REPETIR...” (e o fez por mais duas vezes).
A alegria tomou conta da cidade. Gente entrando e saindo de suas casas, gritando de alegria, chorando e se abraçando. Eu me lembro de ter perguntado à minha irmã o significado de INCONDICIONALMENTE. Ela me explicou e saiu para comemorar com os vizinhos da nossa rua. Tinha seus motivos: o jovem noivo estava na guerra.
Houve um desmentido da notícia, mas logo esclarecido: os alemães não queriam aceitar o “incondicionalmente” que constava dos termos da rendição, mas logo voltaram atrás.
A cidade de Uberaba suspendeu todas as suas atividades. Tudo era alegria. No dia seguinte fomos ao Grupo Escolar, porém as aulas tinham sido suspensas. Alunos e alunas portando a bandeira do Brasil caminharam em grupo até o Centro da cidade, sendo intensamente aplaudidos pela população. Era a nossa “Passeata da Vitória”...
Recordo-me bem que tudo o que se comemorava depois do final da Segunda Grande Guerra era “da Vitória”: CARNAVAL DA VITÓRIA, BAILE DA VITÓRIA, DESFILE DA VITÓRIA, NATAL DA VITÓRIA, RAINHA DA VITÓRIA... Afinal, a vitória tinha sido de todos.
(Adelino P.Silva)----------------------------------------------------------------------------------