FIM DA GUERRA - 8 DE MAIO 1945
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O final da guerra foi extremamente emocionante. Começou com a rendição dos alemães. A Itália já tinha se rendido às forças aliadas, e notícias já davam como certa a morte de Benito Mussolini.
Não me ligava a detalhes, criança que era, mas sabia que a vitória dos aliados estava próxima. Lembro-me muito bem quando Heron Domingues leu quase gritando, cheio de emoção, a seguinte notícia ao microfone da Rádio Nacional: “E ATENÇÃO, ATENÇÃO, INFORMA O REPÓRTER ESSO EM EDIÇÃO EXTRAORDINÁRIA! OS ALEMÃES ACABAM DE SE RENDER INCONDICIONALMENTE. E VAMOS REPETIR...” (e o fez por mais duas vezes).
A alegria tomou conta da cidade. Gente entrando e saindo de suas casas, gritando de alegria, chorando e se abraçando. Eu me lembro de ter perguntado à minha irmã o significado de INCONDICIONALMENTE. Ela me explicou e saiu para comemorar com os vizinhos da nossa rua. Tinha seus motivos: o jovem noivo estava na guerra.
(Adelino P.Silva)
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Durante a II Guerra, a Marselhesa, o belíssimo hino da França, era constantemente executado nas estações de rádio, quase sempre como prefixo dos noticiosos. A PRE-5 (Rádio Sociedade Triângulo Mineiro) de Uberaba, tinha um intervalo na programação, do meio-dia às duas da tarde, que começava e se encerrava com a “Canção do Expedicionário” ou então a “Canção do Soldado”. Acabei decorando as letras, o que me foi útil mais tarde nas instruções militares e desfiles do Tiro de Guerra.
O final da guerra foi extremamente emocionante. Começou com a rendição dos alemães. A Itália já tinha se rendido às forças aliadas, e notícias já davam como certa a morte de Benito Mussolini.
Não me ligava a detalhes, criança que era, mas sabia que a vitória dos aliados estava próxima. Lembro-me muito bem quando Heron Domingues leu quase gritando, cheio de emoção, a seguinte notícia ao microfone da Rádio Nacional: “E ATENÇÃO, ATENÇÃO, INFORMA O REPÓRTER ESSO EM EDIÇÃO EXTRAORDINÁRIA! OS ALEMÃES ACABAM DE SE RENDER INCONDICIONALMENTE. E VAMOS REPETIR...” (e o fez por mais duas vezes).
A alegria tomou conta da cidade. Gente entrando e saindo de suas casas, gritando de alegria, chorando e se abraçando. Eu me lembro de ter perguntado à minha irmã o significado de INCONDICIONALMENTE. Ela me explicou e saiu para comemorar com os vizinhos da nossa rua. Tinha seus motivos: o jovem noivo estava na guerra.
Houve um desmentido da notícia, mas logo esclarecido: os alemães não queriam aceitar o “incondicionalmente” que constava dos termos da rendição, mas logo voltaram atrás.
A cidade de Uberaba suspendeu todas as suas atividades. Tudo era alegria. No dia seguinte fomos ao Grupo Escolar, porém as aulas tinham sido suspensas. Alunos e alunas portando a bandeira do Brasil caminharam em grupo até o Centro da cidade, sendo intensamente aplaudidos pela população. Era a nossa “Passeata da Vitória”...
Recordo-me bem que tudo o que se comemorava depois do final da Segunda Grande Guerra era “da Vitória”: CARNAVAL DA VITÓRIA, BAILE DA VITÓRIA, DESFILE DA VITÓRIA, NATAL DA VITÓRIA, RAINHA DA VITÓRIA... Afinal, a vitória tinha sido de todos.
Recordo-me bem que tudo o que se comemorava depois do final da Segunda Grande Guerra era “da Vitória”: CARNAVAL DA VITÓRIA, BAILE DA VITÓRIA, DESFILE DA VITÓRIA, NATAL DA VITÓRIA, RAINHA DA VITÓRIA... Afinal, a vitória tinha sido de todos.
(Adelino P.Silva)
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14 Comments:
Que bela maneira de nos contar a história.
Diferentemente da maneira que aprendemos na escola, quando não nos interessávamos, hoje visto desse lado é legal.
Passei por perto, mas estive presente.
Um abraço
Adelino,
Belo texto. Pude viver o momento que deve ter sido lindo. Talvez uma das mais belas vitórias que o homem já obteve.
Grande abraço
Caro Adelino, contado assim, fica muitom bonito. Não viví essa época e conheço pouco da história.
Acho que vivi apenas a fase das derrotas. Maracanã 1950 e as outras copas, Airton Senna morrendo, Copa perdida para a França, Argentina nos derrotando. Credo, vou parar por aqui senão estrago o teu post.
Um abraço forte
Com a distância do tempo, até as guerras ficam com outra cara!Não devemosesquecer que não há vitória sem vencidos! E são homens matando homens! Em tempo de guerra heroísmo. No de paz, chacina!
Pois então, Anna, a História da guerra é contada a partir de uma visão geral. E cada cidadão que participou dela, de uma maneira ou de outra, de longe ou de perto, tem a uma história particular, o seu drama, o seu ponto de vista, o seu problema, o seu sentimento com relação a ela. O cinema explorou muito bem isso durante muito tempo, e ainda continua explorando.
Um abraço, Anna. E sempre obrigado pelo prestígio.
Adelino,
Belo texto. Pude viver o momento que deve ter sido lindo. Talvez uma das mais belas vitórias que o homem já obteve.
Grande abraço
Lord Broken, claro que você sabe disso, mas foi uma guerra que atingiu a todos os cantos do mundo, não com armas ou bombardeios, mas até sentimentalmente, emeocionalmente, pela expectativa que criava, principalmente nas crianças, que pela própria natureza têm a tendência de supervalorizar tudo o que observam. Foguetes comemorando a sorte grande na Loteria Federal era como se fosse - em nosso entendimento - tiros dos canhões de "tropas que se aproximavam da cidade"... Racionamento de gasolina, açúcar, tudo. Por isso tudo a grande alegria pelo final da II Guerra com a vitória das aliadas.
Aproveito para explicar que a foto do post apresentando somente a bandeira dos USA não é a ideal, pois a vitória foi do mundo todo e não apenas deles. Mas foi a que tínhamos no momento da postagem, já um pouco atrasada.
Um grande abraço
Valter, antes de lhe responder eu queria pedir desculpas ao LORD BROKEN pelos erros que cometi no meu comentário anterior. Como disse, comentários aqui demoram uns dois minutos para entrar, por isso nem posso revisá-los.
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Dito isto, Valter, a vitória dos aliados foi muito comemorada porque os momentos que o mundo viveu sob constante tensão desde 1939 também foram terríveis. Você já imaginou uma vitória do Eixo?
Você está um pouco pessimista. Só fala das derrotas do Brasil no esporte, em 50 e outras, mas as vitórias de 58, 62 e tantas outras?
Abração
Tudo bem, Eduardo P.L., mas naquele caso da II Guerra Mundial houve sim um vencedor.
Hitler, Mussolini e Hiroito barbarizavam o resto do mundo. Por isso o motivo de tanta comemoração.
É claro que o ideal seria a paz, mas isto parecia impossível naquele caso.
Grande abraço
Muito interessante essas lembranças de momentos da História. Acho que esses depoimentos pessoais são muito signigficativos!
No blog da Gená Franco, ENTRETANTOS tem um post interessante sobre a Era de Ouro do Rádio no Brasil, inclusive com uma gravação do Repórter Esso noticiando a morte de Hitler e o fim da Segunda Guerra. Vale conferir!
Sonia, eu também dou muito valor a esses depoimentos pessoais. Acredito-os mais autênticos do que aquelas complexas pesquisas bibliográficas.
Gostei demais do blog "ENTRETANTOS", bem como do post sobre a Era de Ouro do Rádio no Brasil.
Cabe aqui alguns esclarecimentos com relação ao Repórter Esso noticiando o fim da Segunda Guerra, usando palavras diferentes daquelas que eu contei no meu post.
Sinceramente, fico com o meu depoimento. Heron Domingues realmente noticiou como eu contei e ouvi pessoalmente no rádio. Pode ter acontecido o seguinte: o final da guerra foi noticiado pelo Repórter Esso; pouco depois a notícia da rendição foi desmentida. Uma hora mais tarde a notícia foi confirmada pelo Presidente Truman (houve aquele problema do "incondicionalmente" etc). Então, deve ter acontecido dois noticiários em edições extraordinárias.
Na gravação apresentada pelo Era de Ouro, estranhei, pois Heron, principalmente em edições extraordinárias já entrava quase que diretamente: "Atenção, atenção etc", mal deixando terminar o som das fanfarras, característica do Repórter.
Outra hipótese é a de uma edição, querendo mostrar como o RE iniciava suas transmissões, e posteriormente a notícia do final da II GM.
Aquela foto do post, por exemplo, segundo sei, acredito que todos já tenham lido ou visto alguma coisa a respeito, foi tirada umas duas ou três vezes, posada... Não foi um "lance de sorte do fotógrafo" como acontece em certos casos. A foto "encomendada" serviria como um símbolo da libertação, da vitória.
Viu só, Sonia, como os depoimentos pessoais são importantes mesmo?
Um abração e obrigado.
É verdade Adelino, os depoimentos pessoais são mesmo muito importantes! Abraços.
Sonia, eu fiz um post sobre o fim da guerra, depois, do início, e breve do "durante".
Abraços
Adelino, o que eu quis dizer foi que mesmo havendo um "vencedor", dele, quantas vidas se perdeu? Na minha conta, quem perde não "ganha". Abração!
Eduardo P.L., entendi o que disse, claro.
Grande abraço.
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