18 abril 2008

ANALFABETISMO? NÃO.

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Tive a honra de ser convidado pela Geórgia e a Meire a participar da blogagem coletiva sobre a alfabetização. Lembrei-me então de um fato ocorrido há muitos anos, quando ainda criança. É meio comprido, mas se tiver tempo e paciência, leia. É pertinente.

Ao lado da nossa casa, numa oficina mecânica, trabalhava um senhor humilde, muito querido de toda a vizinhança pela educação, respeito e carinho que dispensava a todos nós, crianças, adolescentes e adultos. Sua aparência meio rude, quase sempre trajando um macacão sujo de óleo e graxa afastava dele quem o visse pela primeira vez. Até seu nome era estranho: Borval... Às vezes o víamos observando discretamente, com ar tristonho, pensativo, meu irmão e eu fazendo nossos deveres escolares em meio a livros, cadernos e lápis. Um dia, perguntamos ao nosso amigo se ele sabia ler.
- Não. E nem escrever. – respondeu prontamente.
- E o senhor gostaria de aprender a ler, escrever, fazer contas?
- Gostaria. Mas nunca fui à escola.
- A partir de hoje você tem dois professores. – disse-lhe meu irmão mais velho.

- Será se eu consigo? - perguntou entre alegre e temeroso.
- Claro que consegue. Começamos quando quiser. - dissemos.

E assim foi. Aulas diárias de meia hora, quarenta e cinco minutos, rigorosamente. Crianças que éramos, no começo ríamos dele discretamente e de nós mesmos. Embora pacientes, achávamos ser impossível extrair dali qualquer resultado positivo por menor que fosse. Os dias foram passando. A boa vontade e esforço do Borval eram comoventes.

Finalmente, dentro de três meses ele já escrevia razoavelmente, lia até manchetes de jornal e fazia com relativa desenvoltura as contas de “mais e de menos”. Sua gratidão para conosco foi emocionante. Até sua irmã, humilde como ele, uma senhora casada e com filhos, morando num bairro distante, quando soube do nosso "milagre" foi nos agradecer pessoalmente pelo “bem que fizéramos ao seu irmão”. Ficamos surpresos, mal tínhamos conta da importância do nosso feito.


O tempo passou. Mais tarde, já adolescentes, ficamos sabendo pela sua irmã que o “nosso bom aluno” Borval tomara gosto pelos estudos, conseguira emprego no escritório de uma empresa numa cidade vizinha, e até ganhava mais, bem mais. Não que a profissão de ajudante de mecânico que exercia não fosse digna como outra qualquer, mas agora ele trabalhava naquilo que segundo ela era seu sonho, e consequentemente produzia muito mais.

E nós costumávamos dizer com muito orgulho: “Pelo menos um adulto alfabetizamos”. E não é tão difícil como pode parecer à primeira vista. É só perguntar, abrir o jogo francamente, porque muitas pessoas adultas têm vergonha de dizer que são analfabetas. Conheço casos assim. Descubra-os e ensine. Sempre que posso faço isso. Embora muitos não queiram mesmo aprender.
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Imagem: Blog da Geórgia
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16 abril 2008

RUBEM BRAGA

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Este livro já foi muito badalado, presenteado, analisado, assinalado, resenhado, lido, anotado etc, mas só agora eu falo dele e recomendo. Estou ainda na página 296, falta muita coisa (ainda bem), mas posso dizer que está me agradando imensamente. Para quem gosta de crônicas, política, biografia (contada de um modo diferente), histórias reais ambientadas no Rio Antigo, Lapa, Catete, outros locais e cidades, especialmente em Cachoeiro do Itapemirim, terra natal de Rubem Braga, o livro de Marco Antônio de Carvalho (infelizmente falecido pouco antes da composição final da obra) é fascinante, muito agradável. Foi uma vida intensamente vivida a do notável cronista/jornalista e correspondente de guerra espiritossantense. É dispensável dizer que o livro eu ganhei de presente...
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Capa do original escaneada por APS
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07 abril 2008

PUSHING DAISIES

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Para quem "não gosta" de novelas, recomendamos
ver a estréia de uma série na TV que nos parece
muito interessante:
Pushing Daisies (Mortos-vivos),
com Lee Pace (Ned) e a lindíssima atriz
Anna Friel (Charlotte Charles) nos papéis
principais. Ned é um jovem com o poder de
ressuscitar pessoas com apenas um toque, o
que o leva a trabalhar auxiliando um detetive
na solução de alguns crimes. A história se
complica quando ele ressuscita Charlotte,
sua antiga paixão, pois Ned não pode tocá-la
novamente: Charlotte retornaria
definitivamente ao mundo dos mortos. Segundo
os críticos, é uma série que vale a pena ser vista.
Quinta-feira, 21 horas, Canal Warner.
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05 abril 2008

CAÇA AO AEDES AEGYPTI

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Estava eu distraidamente folheando um “recente” exemplar da revista Eu Sei Tudo, de junho de 1917, portanto de “apenas” 91 anos de idade, quando me deparei com um artigo à página 87, ilustrado, interessante e oportuno. Dizia mais ou menos isto: no início do século passado, a cidade de Nova York era assolada por epidemias de “moléstias contagiosas”.

Os cientistas, após pesquisas intensivas, descobriram que as doenças eram transmitidas pelo mosquito. Eles sabiam disso, mas como fazer com que o povo também soubesse? Diz a revista que “seguindo a formula do phylosofo Locke” de que “nada consegue penetrar o intellecto, se não chegar a elle por intermédio dos sentidos”, a Repartição de Hygiene de New York mandou construir um mosquito “artificial”, milhares de vezes maior do que o "insecto" natural. E o expuseram à população, com o seguinte cartaz: “Eis o inimigo!”

Prossegue o artigo: “regiamente” pagos pela Prefeitura, aos domingos, atores e escritores famosos explicavam ao público como funcionava o processo de transmissão das moléstias através dos mosquitos, tempo de ovulação, locais ideais para reprodução, e o mais importante: as formas de combatê-lo até a sua destruição completa.O tal “mosquito gigante” cuja réplica era perfeita nos seus mínimos detalhes levou um ano e meio para ser “construído” gastando-se o equivalente a “oitenta contos de réis”...Consciente e motivada, a população teve uma colaboração primordial no auxílio a erradicação de várias moléstias transmissíveis pelo mosquito, evitando-se assim a ocorrência de novas epidemias. A matéria é "illustrada" com uma gravura comparando o tamanho de “insecto artificial” com o de um homem de altura mediana.

Voltemos ao presente. Uma sugestão para as nossas autoridades amantes de obras “chamativas” de véspera de eleição: por que não um exemplar do aedes aegypti gigantesco bem no meio da Cinelândia, ali próximo ao Passeio Público? E outro em frente ao Palácio Laranjeiras, outro em frente ao Aeroporto Tom Jobim? No meio da Lagoa Rodrigo de Freitas, flutuando todo iluminado o ano todo? E mais um em Brasília, da mesma altura do Memorial JK? Com tecnologias tão evoluídas a fabricação dos “aedes aegypti gigantes” hoje seria rápida, uns dois ou três por semana... De repente dá certo, quem sabe? Em Nova York deu...
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Imagem escaneada por APS da Revista Eu Sei Tudo Ano I - n. 1
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04 abril 2008

LIBERDADE PARA A NATUREZA

Este simples post é dedicado às queridas leitoras Ana Pontes e Sonia. A Ana por ter batido à porta (tóc tóc, tem gente aí?), e a Sonia por ter me "cobrado produção". E além do mais, são duas entusiastas das belezas que a Natureza nos oferece gratuitamente. A elas o meu respeito e carinho pela atenção e prestígio.
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A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (ECO-92) foi realizada no Rio de Janeiro entre os dias 3 e 14 de junho de 1992. O objetivo principal foi o de encontrar formas de conciliar o desenvolvimento sócio-econômico com a conservação dos ecosistemas do nosso planeta.

Em outras palavras: foi um grito de alerta, uma chamada geral à responsabilidade de todas as nações desenvolvidas ou em desenvolvimento para a necessidade de um maior cuidado, respeito e carinho para com a Natureza. Se a ECO-92 produziu os resultados oficialmente esperados não sabemos, mas a verdade é que depois dela criou-se, pelo menos em boa parcela da população, a consciência de que o problema existe. Fala-se muito em ecologia atualmente.

Tive o prazer de estar presente a este importante evento, inclusive fazendo algumas fotografias do que achava mais interessante, sendo uma delas, no pavilhão dos USA, a de uma gaiola com as suas portinholas abertas simbolizando um pedido de libertade para os pássaros: "Let the Birds Sing in Freedom"...
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Foto (não digital) de APS
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